A síndrome dos ovários policísticos (SOP), é considerada uma doença endócrina e metabólica que em sua maioria atinge mulheres em idade reprodutiva (OLIVEIRA; SILVA; SALOMON, 2022), tendo uma prevalência de 9 a 18%, podendo variar conforme a população estudada e os critérios para diagnóstico utilizados (CAVALCANTE et al., 2021).

Ramos et al., (2018, p.100) destaca que a SOP “é um distúrbio endócrino feminino caracterizado por oligovulação ou anovulação, sinais clínicos ou bioquímicos de hiperandrogenismo e anormalidades na morfologia ou no tamanho dos óvulos”.

A SOP é uma doença complexa que pode desencadear em suas portadoras alterações hormonais e sintomas que vão desde hiperandrogenismo (aumento da produção de hormônios masculinos), anovulação, oligovulação até ciclos menstruais irregulares, disfunção ovariana, hirsutismo (aumento de pelos), acne, múltiplos cistos nos ovários, além de alopecia, seborréia e infertilidade (ALVES et al. 2022). 

Entenda a Síndrome dos Ovários Policísticos

Principais alterações causadas pela doença

As principais manifestações metabólicas frequentes em mulheres com SOP são a obesidade, hiperinsulinemia, resistência insulínica e síndrome metabólica, alterações nos valores séricos de lipídios, além de aumentar o risco de desenvolver doenças como a diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares (GONÇALVES, et al., 2018). Apesar da resistência à insulina e a obesidade não serem critérios para diagnóstico da doença, aparecem de maneira frequente nas manifestações da SOP (BRASIL, 2020).

De acordo com o Ministério da Saúde, disfunções reprodutivas podem ocorrer em mulheres com SOP, aumentando o risco de abortos espontâneos, complicações no parto, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e a própria infertilidade (BRASIL, 2020).

Os fatores que levam ao desenvolvimento da SOP ainda não são totalmente conhecidos, mas acredita-se que seja multifatorial, pois envolve fatores metabólicos, genéticos, endócrinos, reprodutivos e ambientais (GOMES et al., 2022). Ainda sobre a etiologia da SOP, como não é totalmente definida e não há testes diagnósticos precisos, pode-se considerar que o diagnóstico é por exclusão (BRASIL, 2020).

Lima, Pinto e Correia (2022), destacam que a origem da síndrome dos ovários policísticos pode ser tanto genotípica (genética) ou fenotípica que envolve o ambiente em que a mulher vive e exerce influência no desenvolvimento da doença. Além disso, apresentar cistos nos ovários, não é suficiente para definir o diagnóstico da SOP, sendo necessário outros fatores determinantes para que um diagnóstico seja reconhecido.

Sintomas clínicos e o diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos

De acordo com a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, o protocolo mais atual para definir o diagnóstico da SOP, trata-se do consenso publicado por Teede et al. (2018), onde devem existir de dois a três critérios a seguir: hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial, oligo-amenorréia e exames ultrassonográficos, com exclusão de outras doenças relacionadas ao hiperandrogenismo (FEBRASGO, 2019).

Gonçalves et al. (2018), afirmam que apesar do hiperandrogenismo não aparecer em todas as mulheres, ele é importante para compreender a SOP mas não é o único fator para entendimento desta doença, que pode ocorrer também por um defeito na ação da insulina levando a hiperinsulinemia e a resistência à insulina. 

Devido a alta prevalência de distúrbios metabólicos como a resistência à insulina e hiperinsulinemia em cerca de 43% das pacientes com SOP,  a síndrome pode ser considerada também um fator de risco para doenças cardiovasculares (VIANA et al., 2022).

Entenda a Síndrome dos Ovários Policísticos

O fato de ser uma doença que causa distúrbios metabólicos ela pode desencadear um desequilíbrio hormonal com interferência na ovulação, gerando ciclos irregulares com menor frequência e formação de cistos, além dos sinais característicos dos níveis de androgênios aumentados: excesso de pelos, queda de cabelos, manchas na pele e acne (SANTOS et al., 2019).

Obesidade como fator de risco

A obesidade também atua como fator que predispõe ao desenvolvimento da SOP, onde quase 50% das mulheres que têm a doença estão obesas, sendo observado nestas mulheres maior porcentagem de gordura total, aumento da glicemia em jejum, triglicerídeos e hemoglobina glicada (GONÇALVES et al., 2018). 

Apesar de ser uma doença que até o momento não apresenta uma cura, com realização do correto diagnóstico e melhor controle dos sintomas clínicos é possível amenizar os efeitos e evitar possíveis complicações. Seu tratamento deve ser de forma individualizada, visto que a SOP se manifesta de maneiras diferentes nas mulheres portadoras da doença (LIMA; FERREIRA, 2017).

Tratamentos indicados para melhorar os sintomas

Santos et al. (2019), destacam que o tratamento da SOP deve ter foco na prevenção de comorbidades associadas à doença como a obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, além de fatores reprodutivos. 

Existem algumas opções de tratamento da síndrome dos ovários policísticos com maior destaque para os medicamentos anticoncepcionais orais e os sensibilizadores de insulina como a metformina, que tem o objetivo de amenizar sintomas, regularizando o ciclo menstrual, além de tratar o hirsutismo, a acne e a resistência insulínica auxiliando na diminuição do hiperandrogenismo (PEREIRA; SILVA; CAVALCANTI, 2015).

Porém é possível controlar sinais, sintomas e melhorar a qualidade de vida das mulheres com SOP com auxílio de estratégias nutricionais que compreendem manejos alimentares e uso de suplementos, levando em consideração o quadro de cada paciente (XAVIER; FREITAS, 2021). 

As estratégias nutricionais vem sendo utilizadas como forma de tratamento não medicamentoso e incluem as mudanças no estilo de vida e hábitos alimentares mais saudáveis juntamente com a prática de atividade física que é eficaz no tratamento da SOP ao longo prazo (OLIVEIRA; SILVA; SALOMON, 2022).

Além disso, uma redução de 5% no peso corporal já pode trazer melhoras nos sintomas clínicos da SOP auxiliando na resistência à insulina, no hiperandrogenismo e nos desequilíbrios do ciclo menstrual (GONÇALVES et al., 2018). 

Com a redução do peso corporal há também uma diminuição dos processos inflamatórios que contribuem para a melhora da resistência à insulina já que o acúmulo de gordura central está ligado ao nível de insulina no sangue (OLIVEIRA; SILVA; SALOMON, 2022) e ao maior risco de dislipidemias e da hipertensão arterial (CARNEIRO; CAMPOS; BUENO, 2022).

Dieta low carb e Mediterrânea como aliadas no tratamento

Dentre as mudanças nos hábitos alimentares, encontram-se boas estratégias como a dieta baixa em carboidratos que contribui para a redução do peso e concentrações de insulina (XAVIER; FREITAS, 2021). Uma dieta rica em proteínas, baixa em calorias, com menor índice glicêmico e contendo alimentos antioxidantes e anti-inflamatórios podem trazer benefícios para melhorar os sintomas da SOP (CARNEIRO; CAMPOS; BUENO, 2022).

Vale destacar também entre as estratégias nutricionais, a dieta mediterrânea conhecida por seu potencial anti inflamatório que inclui gorduras insaturadas, carboidratos de baixo índice glicêmico e alta ingestão de gorduras poli-insaturadas como o ômega 3, além de antioxidantes presentes nas frutas e vegetais (BARREA et al., 2019).

Entenda a Síndrome dos Ovários Policísticos

Suplementos como Ômega 3 e Vitamina D para controle de sintomas

Em relação aos tratamentos com suplementos nutricionais, o ômega 3 tem papel importante no tratamento dos distúrbios metabólicos em pacientes com SOP, pois atua na melhora dos quadros de resistência à insulina e nas alterações hormonais causados por estresse oxidativo e hiperinsulinemia (YANG et al., 2018). 

Já a suplementação de vitamina D, segundo Miao et al. (2020), pode ser uma opção de tratamento, por exercer influência positiva sobre a resistência à insulina e o hiperandrogenismo em mulheres com SOP. Considerando que pacientes com a síndrome dos ovários policísticos podem ter a qualidade de vida influenciada negativamente por consequência de complicações metabólicas e reprodutivas como a infertilidade, hirsutismo, hiperandrogenismo e aumentar o risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, adotar estratégias nutricionais que incluem mudanças no estilo de vida, dieta adequada, perda de peso e auxílio de suplementação, pode causar efeitos benéficos proporcionando uma melhora dos sintomas clínicos da doença, restabelecendo a saúde da mulher como um todo e auxiliar na resistência à insulina, regulação hormonal e fertilidade.

Tem alguma dúvida ou sugestão? Deixe seu comentário aqui embaixo, será um prazer te ajudar! Vamos juntos conquistar mais saúde!

Referências:

CAVALCANTE I. S. et al. Síndrome dos ovários policísticos: aspectos clínicos e impactos na saúde da mulher. Research, Society and Development, v. 10, n. 2, 2021. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i2.12398. Acesso em 10 maio 2023.

OLIVEIRA T. F; SILVA M. J. A. A; SALOMON A. L. R. Síndrome do ovário policístico: a nutrição no tratamento de resistência à insulina e dos processos inflamatórios. Research, Society and Development, v. 11, n. 8, 2022. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i8.31425. Acesso em 10 maio 2023.

RAMOS A. P. R. et al. Nutrição Funcional na Saúde da Mulher. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018.

ALVES M. L. S et al. Síndrome de ovários policísticos (SOP), fisiopatologia e tratamento, uma revisão. Research, Society and Development, v. 11, n. 9, 2022. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i9.32469. Acesso em 10 maio 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome de Ovários Policísticos – Brasília – DF. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/publicacoes_ms/pcdt_sndrome-ovrios-policsticos_isbn.pdf . Acesso em 10 maio 2023.

GONÇALVES M. M. et al. Interferência dos hábitos nutricionais no perfil metabólico de mulheres com síndrome dos ovários policísticos. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo, v. 63, n. 1, p. 6-11, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.26432/1809-3019.2018.63.1.6. Acesso em 10 maio 2023.

LIMA C. M. A. M.; PINTO K. G.; CORREIA V. M. F. Aspectos nutricionais e manejo alimentar no controle da Síndrome do Ovário Policístico. Research, Society and Development, v. 11, n. 9, 2022. Disponível em: <: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i9.31526>. Acesso em 10 maio 2023.

FEBRASGO. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Síndrome dos ovários policísticos – Ribeirão Preto – SP, v. 47, n. 9, 2019. Disponível em: <*Vol.Z47ZnZ9Z-Z2019.pdf (febrasgo.org.br)>. Acesso em 10 maio 2023.

TEEDE H. J. et al. Recommendations from the international evidence-based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome. Human Reproduction, v. 33, n. 9, p. 1602–1618, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1093/humrep/dey256. Acesso em 10 maio 2023.

GONÇALVES M. M. et al. Interferência dos hábitos nutricionais no perfil metabólico de mulheres com síndrome dos ovários policísticos. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo, v. 63, n. 1, p. 6-11, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.26432/1809-3019.2018.63.1.6. Acesso em 10 maio 2023.

SANTOS T. S. et al. Aspectos nutricionais e manejo alimentar em mulheres com síndrome dos ovários policísticos. Revista Saúde em Foco, v. 11, n.1, p. 649-670, 2019. Disponível em: https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2019/06/058_ASPECTOS-NUTRICIONAIS-E-MANEJO-ALIMENTAR-EM-MULHERES-COM-S%C3%8DNDROME-DOS-OV%C3%81RIOS-POLIC%C3%8DSTICOS_649_a_670.pdf. Acesso em 14 maio 2023.

VIANA E. T. et al. Suplementação de simbióticos: terapia adjuvante no tratamento da resistência insulínica em mulheres com síndrome do ovário policístico. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo, v. 67, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.26432/1809-3019.2022.67.006. Acesso em 12 maio 2023.

PEREIRA J. M.; SILVA V. O.; CAVALCANTI D. S. P. Síndrome do Ovário Policístico: Terapia Medicamentosa com Metformina e Anticoncepcionais Orais. Revista Acadêmica do Instituto de Ciências da Saúde, v. 1, n. 1, 2015. Disponível em: https://revistas.unifan.edu.br/index.php/RevistaICS/article/view/103. Acesso em 12 maio 2023.

XAVIER E. C. S; FREITAS F. M. N. O. Manejo dietético e suplementar na fisiopatologia da síndrome dos ovários policísticos. Research, Society and Development, v. 10, n. 15, 2021. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i15.22975. Acesso em 15 maio 2023.

OLIVEIRA T. F; SILVA M. J. A. A; SALOMON A. L. R. Síndrome do ovário policístico: a nutrição no tratamento de resistência à insulina e dos processos inflamatórios. Research, Society and Development, v. 11, n. 8, 2022. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i8.31425. Acesso em 10 maio 2023.

CARNEIRO A. C. R.; CAMPOS M. B. E.; BUENO A. Aspectos nutricionais na síndrome do ovário policístico. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 8, n. 11, p.73403-73413, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.34117/bjdv8n11-174. Acesso em 14 maio 2023

BARREA L. et al. Adherence to the Mediterranean Diet, Dietary Patterns and Body Composition in Women with Polycystic Ovary Syndrome (PCOS). Nutrients, v. 11, n. 2278, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.3390/nu11102278. Acesso em 15 maio 2023.

YANG K. et al. Effectiveness of Omega-3 fatty acid for polycystic ovary syndrome: a systematic review and meta-analysis. Reproductive Biology and Endocrinology, v. 16, n. 27, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12958-018-0346-x. Acesso em 15 maio 2023.

MIAO C. Y. et al. Effect of vitamin D supplementation on polycystic ovary syndrome: A meta‑analysis. Experimental and Therapeutic Medicine, v. 19, p. 2641-2649, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.3892/etm.2020.8525. Acesso em 15 maio 2023.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

cinco × 2 =