Atualmente acredita-se que as mudanças do estilo de vida somadas aos tratamentos farmacológicos e suplementos nutricionais podem trazer diversos benefícios para o SOP (PUNDIR et al., 2019). Devido aos efeitos colaterais causados por tratamentos farmacológicos em pacientes com SOP, os suplementos nutricionais estão sendo cada vez mais utilizados e se tornando um importante aliado no tratamento dessa patologia. (SILLS et al., 2001).
Ômega 3 e seus benefícios na SOP
O ácido graxo ômega-3, também conhecido como alfa-linolênico (ALA), permite a formação de dois importantes ácidos graxos de cadeia longa, o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA), onde ambos atuam de maneira importante na ação anti-inflamatória (RAFRAF et al., 2012).
Em relação a SOP, pode-se observar que o ômega-3 tem atuado na melhora da sensibilidade à insulina, inflamação crônica de baixo grau, ovulação e no perfil lipídico dessas mulheres. Porém, o estilo de vida e a alimentação adequada ainda possuem uma grande influência na qualidade de vida das mulheres com SOP (REGIDOR et al., 2020).
Alimentos fonte de Ômega 3 também trazem benefícios
Pescados como salmão, sardinha e atum são conhecidos popularmente como fonte de ômega-3. Oleaginosas como sementes e nozes contêm ácido alfa linolênico, precursor importante de EPA e DHA. Os ácidos graxos ômega-3 desempenham um papel crucial na síndrome dos ovários policísticos, devido a seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, que melhoram a sensibilidade à insulina (CALCATERRA et al., 2021).
Segundo Haidari et al., (2019), observou-se que os ácidos graxos ômega-3 presentes na semente de linhaça podem aumentar o nível de adiponectina, que tem propriedades anti ateroscleróticas, antidiabéticas e anti-inflamatórias, melhorando a sensibilidade à insulina nas pacientes com SOP.
Em um estudo feito por Yang et al., (2018), com o objetivo de avaliar a eficácia e segurança do ácido graxo ômega-3 para pacientes com SOP, com a variação na dosagem de 400 mg a 900 mg de ômega-3 em um período entre 6 e 24 semanas, obteve-se uma melhora na RI, HOMA-IR, um aumento da adiponectina, diminuição no LDL-C e TG, sendo recomendado o ômega-3 quando esses se encontram em altos níveis nas pacientes com SOP. Neste estudo, destaca-se que com base nas evidências atuais, o ácido graxo ômega-3 deve ser recomendado para o manejo metabólico de mulheres com SOP. Dentre esses efeitos, destaca-se a atividade anti-inflamatória dos ácidos graxos poli-insaturados n-3 (AGPI) como consideração crucial no manejo de mulheres com SOP.
Corroborando Ebrahimi et al. (2017), destacam os benefícios da suplementação de ômega-3 em mulheres com SOP. A pesquisa revelou melhorias significativas nos perfis androgênicos e nos marcadores de resistência à insulina com a suplementação de 1000mg de ácido graxo ômega-3 da linhaça, combinado com 400UI de vitamina E, ao longo de 12 semanas. A co-suplementação mostrou sinergia, proporcionando benefícios superiores em aspectos endócrinos e metabólicos quando comparada às intervenções individuais.
Uso da Vitamina D
Além disso, a vitamina D tem demonstrado diversos benefícios com relação ao tratamento da SOP, conhecida como calciferol, ela está disponível na natureza de duas formas, uma é originada por leveduras e plantas, chamada de vitamina D2 (ergocalciferol), e a outra é produzida pela epiderme através da exposição aos Raios UV-B vitamina D3 (colecalciferol). Ambas as formas são transportadas para o fígado, onde então sofrerão duas hidroxilações para serem transportadas em calcifediol (25-hidroxivitamina D3, que é a sua forma mais ativa e a qual o corpo consegue melhor absorção e armazenamento (MU et al., 2021).
Segundo Thomson, Spedding e Buckley (2012), até 85% das mulheres com SOP têm deficiência de vitamina D. A maior fonte de vitamina D está na epiderme, onde a mesma é produzida após a exposição solar e a outra através das fontes alimentares, entretanto menos de 20% é ofertada através da alimentação.
Ainda sobre a vitamina D, esta tem como objetivo controlar as vias metabólicas da homeostase de fosfato e cálcio, auxiliando a propriedade da mineração óssea. Foi descoberto também que esse hormônio tem outros objetivos, como: antiproliferação, anti-inflamatório, diferenciação, pró-apoptose e imunossupressão (MORIDI et al., 2020).
Segundo as diretrizes, mulheres portadoras da SOP devem ter tratamentos direcionados para a regularização da menstruação e recuperação da fertilidade, visto que, a suplementação nutricional pode ser fundamental durante o tratamento. De acordo com pesquisas, a deficiência da vitamina D pode causar impactos negativos na homeostase da glicose, doença cardiovascular (DCV), câncer, doenças autoimunes, desordens psicológicas e potencializar os sintomas de doenças reprodutivas (TEHRANI; MOSTAJERAN; SHAHSAVARI, 2014).
Vitamina D baixa está associada à inflamação
Maktabi, Chamani e Asemi (2017), destacam que a vitamina D desempenha um papel regulador nos níveis de cálcio intracelular e extracelular, influenciando mecanismos mediados por insulina e afetando a secreção e sensibilidade insulínica. Níveis baixos de vitamina D estão associados à inflamação e resistência à insulina. Nesse estudo foi realizado a suplementação de vitamina D com administração de 50.000 UI em 70 mulheres com deficiência de vitamina D e com SOP, divididos em dois grupos, um grupo com a vitamina D e o outro grupo placebo, por doze semanas com intervalo de tempo de duas semanas. a suplementação mostrou efeitos benéficos na síndrome metabólica.
Em um estudo semelhante, Dastorani et al., (2018) envolveu 40 mulheres com SOP, divididas em dois grupos de vitamina D e placebo. Com a administração de 50.000 UI a cada duas semanas, observou-se uma redução nos níveis de insulina e HOMA-IR, além de um aumento significativo da QUICKI. Não foram relatados efeitos colaterais. Como resultado, esse estudo mostrou que a suplementação de vitamina D, especialmente em mulheres com deficiência, trouxe benefícios nos parâmetros de homeostasia da glicose, sem impactar perfis hormonais, lipídicos, biomarcadores de inflamação ou estresse oxidativo. Variações nos resultados podem ser atribuídas ao tempo de administração e à deficiência inicial de vitamina D nas participantes.
Suplementos promissores no tratamento da SOP
Na pesquisa de Izadi et al., (2018), foram investigados os efeitos terapêuticos da coenzima Q10 (CoQ10) e vitamina E na SOP. A Coenzima Q10, é uma benzoquinona utilizada no metabolismo glicídico e lipídico por possuir uma poderosa ação antioxidante, demonstrando melhorias na reserva ovariana, aspectos metabólicos e endócrinos. A vitamina E destacou-se como antioxidante, influenciando hipertensão, glicemia, inflamação e obesidade. A suplementação conjunta de Q10 e vitamina E apresentou benefícios significativos, colaborando na redução de insulina, glicemia de jejum, HOMA-IR e no índice de androgênios livres, indicando impacto positivo na resistência à insulina na SOP.
Cromo é um importante mineral
O cromo é um outro mineral importante pois é essencial para o organismo, sendo um mensageiro secundário ou cofator da insulina, aumenta à sensibilidade à insulina e melhora o consumo de glicose pelo tecido alvo da insulina, estimulando o receptor de insulina quinase e inibindo a fosfatase do receptor insulínico (FONTENELLE et al., 2018).

Segundo Zang et al. (2018), o magnésio é o segundo cátion intracelular mais importante, pois é um íon que funciona como cofator em vários sistemas enzimáticos, sendo absorvido no intestino delgado e excretado através do rim, que desempenham papel fundamental no metabolismo dos carboidratos e via de resposta à insulina.
Por outro lado, Douglas et al., (2006), sugerem que quando a ingestão de magnésio foi avaliada em mulheres com SOP, verificou-se que sua ingestão não foi diferente das mulheres sem SOP e não teve correlação com parâmetros de insulina.
No entanto, pesquisas mais recentes indicam que a ingestão de micronutrientes incluindo magnésio, ferro, fósforo, retinol e vitamina E, pode ser benéfica para mulheres com SOP. A relação específica entre a ingestão de micronutrientes e as características metabólicas da SOP ainda não está clara, deixando incertezas sobre como esses micronutrientes contribuem para a obesidade, resistência à insulina e dislipidemia associada à SOP (MORAN et al., 2013).
Mio-Inositol no tratamento da SOP
Um estudo realizado por Genazzani et al., (2014), destacou o uso do mio-inositol como uma estratégia de suplementação promissora para mulheres com SOP. Considerado um sensibilizador de insulina adicional, o mioinositol é utilizado em doses de 2 a 4 g/dia por 12-24 semanas. Evidências indicam que o mio-inositol tem a capacidade de reduzir hormônios androgênicos, diminuir a relação LH:FSH, suprimir a liberação de LH após estímulo com GnRH e aprimorar a sensibilidade à insulina (UNFER et al., 2017).
Mais um estudo controlado por placebo e duplo-cego, conduzido por Gerli, Mignosa e Renzo (2003), administrou Inositol (100 mg, duas vezes ao dia) a 136 mulheres, enquanto 147 receberam placebo. Ao longo de 14 semanas, as participantes que receberam inositol apresentaram melhora na frequência da ovulação em comparação com aquelas que receberam placebo, além de benefícios relacionados à redução de peso e elevação do HDL-colesterol.
Por fim, mais um estudo semelhante com a suplementação de 600 mg de D-chiroinositol por seis a oito semanas resultou na resultou na redução de insulina, testosterona livre, triglicerídeos e pressão arterial, além de aumentar a ovulação. Esses resultados sugerem um efeito benéfico do inositol na melhoria da função ovariana em mulheres com oligomenorreia e ovários policísticos (LUORNO et al., 2002).
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Referências:
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