As doenças cardiovasculares (DCV), assumem total relevância entre as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), pois configuram a principal causa de morte, incapacidade e anos de vida perdidos com grande impacto na qualidade de vida (BRASIL, 2022).
Pode ser definida como aquela doença que causa alterações no funcionamento do coração, que é responsável por transportar nutrientes para as células. Entre as doenças cardiovasculares (DCV) pode-se destacar a doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca, angina, infarto agudo do miocárdio (IAM), doenças valvares, arritmias, doenças hipertensivas (MAGALHÃES et al., 2014).
Como acontece a doença cardiovascular
O bloqueio do fluxo de sangue nos vasos sanguíneos causado por acúmulo de gordura nas paredes internas dos vasos, impede que o sangue chegue ao coração e cérebro, podendo desencadear eventos agudos como o infarto agudo do miocárdio e AVC. Além disso, a hemorragia em vasos sanguíneos ou coágulos no cérebro podem causar o acidente vascular cerebral (OPAS, 2022).
O acúmulo de gordura no sangue resulta em hipertrigliceridemia (aumento de triglicérides TG e na hipercolesterolemia (aumento de colesterol LDL-c), levando ao depósito dessas lipoproteínas na parede arterial, processo chave para o início da aterosclerose (PEREIRA, 2022).
A aterosclerose, trata-se de uma doença inflamatória ocasionada por diversos fatores em resposta a uma agressão endotelial comprometendo as camadas internas de artérias com médio e grande calibre (PEREIRA, 2022).
Principais fatores de risco para a doença cardiovascular
Magalhães et al. (2014), afirmam que os fatores de risco para desenvolvimento de DCV podem ser modificáveis e não modificáveis. Os modificáveis estão relacionados a obesidade, hiperlipidemia, sedentarismo, tabagismo, etilismo, hábitos alimentares, enquanto os não modificáveis se relacionam a histórico familiar, idade, sexo e raça.
Passarinho et al. (2018), destacam que os maus hábitos de saúde como tabagismo, obesidade, sedentarismo, excesso de gorduras e sódio, descontrole lipídico, hipertensão arterial, diabetes e histórico familiar, são causas para as doenças cardiovasculares com destaque para infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.
Os fatores de risco como hipertensão, dislipidemia, obesidade, sedentarismo, tabagismo, diabetes e histórico familiar vão aumentar a gravidade e o risco de desenvolver infarto agudo e AVC (SBC, 2019).
De acordo com Sociedade Brasileira de Cardiologia (2019):
“Um evento coronariano agudo é a primeira manifestação da doença aterosclerótica em aproximadamente metade das pessoas que apresentam essa complicação. Dessa forma, a identificação dos indivíduos assintomáticos com maior predisposição é crucial para a prevenção efetiva com a correta definição das metas terapêuticas. Para estimar a gravidade da DCV, foram criados os chamados escores de risco e algoritmos baseados em análises de regressão de estudos populacionais, por meio dos quais a identificação do risco global é aprimorada substancialmente” (SBC, 2019).
Classificação quanto ao risco e diagnóstico clínico
São propostos uma nova estratificação de risco CV para indivíduos acima de 45 anos, com as seguintes classificações: Risco alto (pacientes que já tiveram doença cardiovascular); Risco intermediário (indivíduos com risco de eventos cardiovasculares entre 5 e 20% para homens, e 5 e 10% para mulheres); e Risco baixo (indivíduos com risco menor que 5% de eventos cardiovasculares para os próximos 10 anos) (SALES; HALPERN; CERCATO, 2016).
De acordo com Mahan, Stump e Raymond (2018), o correto diagnóstico clínico inicia-se com exames menos invasivos como eletrocardiogramas, teste ergométrico, cintilografias e ecocardiografia. Através da angiografia (cateterismo) é possível ter um diagnóstico mais definitivo porém mais invasivo, com injeção de contraste nas artérias para obter imagens do coração, porém lesões menores podem não ser visíveis. Já a ressonância magnética pode ser usada para acompanhamento de regressão ou avanço da doença após adoção de tratamentos e visualizar também as lesões menores.
Algumas recomendações podem contribuir para a redução do risco cardiovascular, desde adotar uma alimentação saudável, manter o peso, tratamento com medicamentos, melhor controle dos níveis lipídicos (LDL-c, HDL-c e triglicerídeos), pressão arterial normal, níveis glicêmicos sob controle, sair do sedentarismo e evitar o uso de tabaco (MAHAN; STUMP; RAYMOND, 2018).
A SBC (2019, p. 823), destaca que “a prevenção primordial cardiovascular, no seu contexto mais amplo, engloba evitar a instalação dos fatores de risco cardiovasculares modificáveis, entre eles o tabagismo, e construir estratégias eficazes para a promoção da saúde cardiovascular do indivíduo”.
Sintomas e complicações da doença cardiovascular
Um dos principais sintomas associado ao infarto agudo é a dor torácica descrita “como aperto, opressiva, com irradiação para os membros superiores, mandíbula, dorso ou epigástrio, sendo acompanhada, ou não, por dispneia, sudorese fria, náuseas e vômitos” (PASSARINHO et al., 2018, p. 253).
A insuficiência cardíaca é uma das complicações mais frequentes após o infarto agudo do miocárdio (IAM), além de manifestações arrítmicas (taquicardias e bradicardias). A bradicardia é consequência da diminuição do ritmo cardíaco e a taquicardia acompanha dor torácica (PASSARINHO et al. 2018).
O melhor controle de doenças consideradas fatores de risco modificáveis para DCV como a hipertensão, obesidade e dislipidemias, diminui a ocorrência de eventos coronarianos em indivíduos das mais variadas idades. O risco de doenças cardiovasculares pode ser reduzido com o auxílio de um estilo de vida saudável, através de alimentação adequada, prática de atividade física, melhor controle de peso e evitando hábitos como tabagismo e bebida alcoólica. O correto tratamento farmacológico de hipertensão arterial e dislipidemias também podem contribuir para a redução de eventos cardiovasculares (MAHAN; STUMP; RAYMOND, 2018).
Como prevenir e tratar a doença
O cuidado nutricional tem como objetivos proporcionar a manutenção do peso e auxiliar no tratamento de fatores de risco CV modificáveis que antecedem e aumentam o risco da aterosclerose, como dislipidemias, diabetes mellitus e hipertensão arterial (CELANO; LOSS; NOGUEIRA, 2011).
A terapia nutricional recomendada para a prevenção de doenças cardiovasculares inclui o tratamento das dislipidemias com a redução dos níveis lipídicos e de outros fatores cardiovasculares. O consumo excessivo de gorduras totais está comprovadamente associado ao aumento de colesterol e maior ocorrência de aterosclerose (BRASIL, 2020).
Entre as recomendações para o tratamento das dislipidemias, pode-se destacar o controle de peso, substituição parcial de gorduras saturadas, por mono e poli-insaturadas, pois a gordura saturada leva ao aumento de eventos cardiovasculares, enquanto o consumo de mono e poli-insaturadas está relacionado à redução do colesterol total e LDL-C (SBC, 2017).
Alimentação cardioprotetora como aliada
A alimentação cardioprotetora é um dos padrões alimentares que mais trazem benefícios na redução do risco cardiovascular. Pode-se destacar a dieta mediterrânea, importante na prevenção de outras doenças crônicas não transmissíveis, inclusive a doença cardiovascular, devido a sua recomendação de consumo de frutas e hortaliças, nozes, cereais e azeite, priorizando as gorduras monoinsaturadas. Além de recomendar a ingestão moderada de peixes e baixa de frango, laticínios e de ácidos graxos saturados, carne vermelha e embutidos (BRASIL, 2018).
A dieta DASH é um outro padrão alimentar cardioprotetor, que recomenda um plano alimentar com redução de gordura total colesterol, saturada e sódio, priorizando o consumo também de frutas e hortaliças, além de leite e derivados desnatados, e alimentos ricos em potássio (BRASIL, 2018).
Segundo o Ministério da Saúde, as diretrizes brasileiras sugerem como referência tanto a dieta DASH como Mediterrânea, para o controle e tratamento dos fatores de risco cardiovasculares (BRASIL, 2018).
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Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégia de Saúde Cardiovascular na Atenção Primária à Saúde: instrutivo para profissionais e gestores – Brasília – DF. 2022. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_saude_cardiovascular_instrutivo_profissionais.pdf . Acesso em 07 mai. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da dislipidemia: Prevenção de eventos cardiovasculares e pancreatite – Brasília – DF. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/publicacoes_ms/pcdt_dislipidemia_prevencaoeventoscardiovascularesepancreatite_isbn_18-08-2020.pdf . Acesso em 04 mai. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Alimentação Cardioprotetora: manual de orientações para profissionais de saúde da Atenção Básica – Brasília – DF. 2018. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/alimentacao_cardioprotetora_orien_pro_saude_ab.pdf . Acesso em 07 mai. 2023.
CELANO, R.M.G.; LOSS, S.H.; NOGUEIRA, R.J.M. Terapia Nutricional na Insuficiência Cardíaca Congestiva. Projeto Diretrizes. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, 2011. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_insuficiencia_cardiaca_congestiva.pdf . Acesso em 03 mai. 2023.
MAGALHÃES, et al. Fatores de risco para doenças cardiovasculares em profissionais de enfermagem: estratégias de promoção da saúde. Rev Bras Enferm, v. 67, n. 3, p. 394-400, 2014. Disponível em:. Acesso em 07 mai. 2023.
OPAS. Organização Pan-Americana de Saúde. Doenças Cardiovasculares. 2022. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/doencas-cardiovasculares. Acesso em 07 mai. 2023.
PEREIRA R. Diretrizes de Dislipidemias. 2022. Disponível em: . Acesso em 06 mai. 2023.
PASSARINHO R.S., et al. Sinais, sintomas e complicações do infarto agudo do miocárdio. Rev Enferm UFPE on line., v. 12, n. 1, p. 247-64, 2018. Disponível em:https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/22664. Acesso em 07 mai. 2023.
SBC. Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2019. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2019/v11304/pdf/11304022.pdf. Acesso em 03 abr. 2023.
SALES, P; HALPERN A.; CERCATO, C. O essencial em endocrinologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016.
MAHAN, L.K.; STUMP E.; RAYMOND, J.L. Krause alimentos, nutrição e dietoterapia. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2018.
SBC. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, 2017. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2017/02_DIRETRIZ_DE_DISLIPIDEMIAS.pdf. Acesso em 03 abr. 2023.